8/25/2015

Histórias tristes...

Semana passada chegou aqui comigo um comunitário de lá... bem longe... lá do Cumaru... distante, nesta época do ano, no mínimo 36 horas de barco.
Pois é... o Sr. Tomas veio para perguntar se eu sabia como funciona esse negócio de empréstimo no INSS. Conversamos bastante e eu orientei que ele voltasse ao Banco.
Depois de muitas perguntas e um vai-e-vem ao Bradesco e à uma Agência Promotora, filiada ao Bradesco, ele voltou comigo, ainda mais chateado que antes. 
Sr. Tomas não entendia o que diziam para ele.
Por isso, hoje eu fui ao Bradesco, para acompanhá-lo e tentar ajudar a compreender o enrosco.
Sr. Tomas não tem uma conta corrente. Ele tem uma conta benefício. Por isso, o empréstimo é feito via INSS.
No Banco, descobrimos que não resolvia, pois só a Promotora - trata-se de uma agência que faz empréstimos, filiada ao Bradesco - poderia resolver.
E lá fomos nós na Promotora.
Chegando lá, de cara tinha um cara que parecia cliente, desses que falam além da conta, viram seu amigo em segundos, querem saber da sua vida e tem resposta para tudo. 
Fiquei logo desconfiado.
Ao consultar o sistema, com a atendente, descobrimos que o Sr. Tomas tentou realmente fazer um empréstimo, mas o INSS bloqueou, pois já haviam dois outros empréstimos nome dele, sendo um de quase R$ 500,00 e outro de quase R$ 7.000,00.
Descobrimos também que, quando uma pessoa tem um empréstimo, ela pode refinanciar. Era o que estavma tentando fazer com o Sr. Tomas.
Acontece que ele não sabia e nunca recebeu esses quase R$ 7.000,00!
Pior! Tentaram refinanciar um empréstimo antigo que ele havia feito há muito e que, já havia pago mais da metade das parcelas, porém sem explicar para ele como funciona.
Acontece que o saldo que faltava ele pagar do empréstimo antigo estava em aproximadamente R$ 3.000,00. Ao renegociar, o "esquema" é feito em cima do valor total (aqueles quase R$ 7.000,00) e, pasmem... as prestações, juros, etc. tudo é feito com base no bruto original que ele já havia pago mais da metade!
Resultado? A dívida dele, ao final das 72 parcelas que começaram a ser pagas em janeiro/2015, totalizaria mais de R$ 13.000,00!
É importante ressaltar que o Sr. Tomas é realmente um Senhor que em idade já deveria estar só curtindo a vida, mas não... ele é um Senhor humilde, honrado e que a vida toda trabalhou e trabalha duro até hoje! Muito mais que essa raça de parasita que destrói nossas vidas! 
Eu aconselhei ele à cancelar o empréstimo, ir ao INSS, descobrir o que está acontecendo e acionar o advogado do Sindicato. 
Essa é uma história triste, a história do Sr. Tomas e família.
Hoje, antes de me despedir deles, combinei de ir amanhã no STTR e disse para uma das filhinhas dele começar a aprender para ninguém nunca enganá-la.

Essa é uma história triste... a história do Sr. Tomas, mas não é a única história triste.

Agora vai começar a minha história triste...
Eu trabalho com ATER, talvez vocês já estejam cansados de me ouvir dizer isso.
É um trabalho lindo que eu amo. 
Imagine só você, se é ou não é um trabalho importante?
Talvez outra pessoa ajudasse o Sr. Tomas, mas não foi outra pessoa. Eu estou ajudando ele, porque meu trabalho é assessorá-lo. A ele e outras 278 famílias da área mais isolada da RESEX Tapajós Arapiuns.
A tristeza do meu trabalho está na falta de compromisso do Governo (de forma geral, sem menção a partido, esfera ou corrente ideológica), que acredita que dizer que foram investido milhões em ATER é o mesmo que realizar ATER.
É muito provável que eu seja obrigado a abandonar este trabalho.
Aqui esta a minha tristeza... ter que abandonar este trabalho que eu amo e que me faz uma pessoa melhor.
Isso talvez aconteça porque eu não tenho mais dinheiro para me manter, perante a incompetência e o descaso do INCRA (lembrando que o INCRA é uma organização e não uma pessoa, muito menos setores) em assumir seu papel.
Tudo bem eu ficar triste... afinal de contas eu sou o cara que briga com todo mundo... o cara que não fica quieto perante o abuso ou descaso dos parasitas... Talvez assim será até melhor, pois sera um chato a menos para cobrar o certo.
E talvez o Sr. Tomas consiga alguém melhor para ajudar a resolver seus problemas, pois eu, por mais que queira ajudar e tenha nascido para fazer essas coisas... infelizmente, caso a ATER não funcione, novamente, como deve ser, eu não poderei mais fazer isso.

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